sexta-feira, 28 de abril de 2017

Viver a Dois - Quando o afeto fica para depois


Há muito tempo eu aprendi que os casais não se separam pela toalha jogada em cima da cama.

Não, eles se separam pelo significado que há por trás dessa situação.

Quando eu recebo casais no meu consultório, presumidamente dispostos a reverem sua vida e se acertarem, é interessante ver como os sentimentos são trazidos projetados nas atividades que realizam em casa, nas questões que envolvem objetos materiais, nos cuidados com o animal de estimação, na porta que o outro esqueceu de fechar.

Não há como negar que o maior sofrimento e impacto dentro da convivência tem a ver com as diferenças.

Por vezes os parceiros se esquecem de que cada um veio de uma infância particular, famílias e criações diferentes, histórias de vida e mundos interiores distintos. E que na verdade essa diferença não cessará quando as escovas de dentes repousarem no mesmo recipiente.

Então se juntam e acreditam em algum nível, que o outro será igual a si.
E quando a realidade diferente passa a se impor no dia a dia, a desarmonia se estabelece.

Se a batalha por fazer valer cada qual o seu comportamento e ponto de vista, seguir para o caminho do “ego”, então a coisa piora.

E geralmente é exatamente isso que acontece.

A guerra pode seguir pela via da estratégia: “Se você não faz a sua parte lavando a louça, então eu também não passarei as suas camisas! ”.

Isso porque, por trás da visão da louça acumulada na pia, existe uma mensagem que grita: “Você não está mesmo nem aí pelo que eu te peço. ”

Dessa forma cada um, que ao fazer a escolha pela união eterna, enquanto sonhava que viver junto seria a continuidade de um relacionamento apaixonado e cheio de bons momentos, pode começar a reagir negativamente, seja pelo viés da raiva e agressividade, indiferença, “greve de intimidade” ou pequenas vinganças.

Perceber nesse ponto, que na verdade estão tomando o rumo do distanciamento, objetivo contrário do que se busca na escolha de se unir com outra vida, é essencial para procurar ajuda, sentar para conversar, rever a dinâmica ruim que se estabeleceu, tentar o resgate.

E francamente, nesse momento a condição que mais facilitará qualquer tipo de ajuste e transformação é, sem dúvida, a maturidade.

Mas antes de mais nada, o que tem que ser compreendido, é que o primeiro mandamento da união estável e harmônica, é a busca pelo prazer de dividir a vida com alguém em nome do amor.

É dividir e conversar, compartilhar até mesmo as bobagens do seu dia, querer jantar junto, prezar a imprescindível boa comunicação para não padecer nos trocadilhos dos mal-entendidos.

Ah, não esquecendo que o tradicional carinho em um momento não esperado sempre enriquece aos dois corações.

Quando um casal chega no ponto de não suportar mais o jeito diferente do outro fazer as coisas, precisa acima de tudo rever seu caminho, recordar que provavelmente a primeira idéia no sonho de dividir tudo, era exatamente o que está sendo deixado de lado, consumido pela discussão e trocas negativas: o afeto.

Quando se consegue manter a perspectiva do relacionamento através da lente do afeto genuíno, então tudo fica diferente.

O ciclo pode se inverter na mensagem segura de que se o outro deixou a louça é porque deve estar muito cansado, e que então não há problemas em, dessa vez, auxiliá-lo com tranquilidade e carinho. E receber isso de volta em próxima circunstância.

Estar de comum acordo com seu companheiro sobre tudo, dialogando de forma clara e precisa sobre o que é importante para cada um, em todos os aspectos possíveis, é quase a solução perfeita.

No mais, não resta dúvidas de que a disposição em investir na felicidade dos dois, a preocupação e empatia com o outro, são os ingredientes que complementarão perfeitamente a receita do bom conviver.


Sendo assim, o caminho a seguir pelos pombinhos é exatamente o contrário do que leva ao desentendimento e desgosto: iniciar pela clareza e troca sobre preferências para tudo, boa vontade e compreensão, considerando que a base da escolha pela viagem do casamento sempre foi a afeição e benquerença.

Rosangela Tavares