terça-feira, 10 de março de 2015

Acumuladores


Quando a gente assiste àqueles programas de TV que mostram pessoas com suas casas literalmente lotadas de objetos dos mais variados, fica parecendo que elas são simplesmente malucas.

Como alguém pode conseguir viver dentro de um lugar onde os cômodos foram encobertos por coisas, inclusive coisas inúteis, pelo menos do nosso ponto de vista.

Você pode observar que os acumuladores tem um discurso sempre muito parecido.

Quando indagados sobre a mania de acumular coisas, eles dizem “É que eu achei que isto poderia ser útil para alguma coisa”.

E quanto a se desfazerem dos objetos: “Não consigo. Sempre acho que em algum momento posso precisar disto”.

O que faz com que essas pessoas tenham a necessidade de guardar, de acumular?

Não se trata de fazer coleções ou algo assim, já que elas guardam até coisas que acham pelas lixeiras, coisas novas e coisas velhas.

E o maior impacto está em como elas permitem que o acúmulo acabe se sobrepondo às suas necessidades básicas e essenciais, como higiene, ou espaço para cozinhar, caminhar, dormir.

E mesmo que elas consigam observar e reconhecer a desorganização extrema, não conseguem mudar. É como se o problema só existisse teoricamente.

A verdade é que essas pessoas podem ter vivenciado em alguma fase de sua vida, em geral na infância, experiências sofridas relacionadas à falta.

Em algum nível inconsciente elas podem ter registrado a escassez, o medo de ficar sem, de perder, de precisar e não ter.

Existem pessoas que viveram demais a teoria do “se acabar, não tem mais”, “só tem isso para dividir para todo mundo”, “o dinheiro acabou”, “vamos cortar o sapato para servir por mais tempo, não temos condições para ficar comprando sapatos”, “use as roupas do seu irmão, ainda estão boas”, “se não conseguirmos pagar a casa, ficaremos na rua”...

Dependendo da estrutura da pessoa, pode ser que ela não tenha maiores problemas com a falta no futuro. Pode até ser que ela lute na vida em reação ao que viveu, na promessa de nunca mais passar por aquilo. Desta forma pode buscar progredir, e ter boas condições financeiras em nome da abundância tão desejada na infância.

Mas outras podem reagir diferente, podem ter criado fantasias de medo, crenças inconscientes, e então praticarão como defesa acumular e acumular.

Tirar algo dessas pessoas poderia ser perigoso. Elas não tem a mesma percepção de quem está de fora. Tudo aquilo é muito importante e significativo para elas.

Elas se sentem emocionalmente seguras e preenchidas com os seus objetos, com a casa cheia, com a “fartura”. Nunca mais viverão a falta!

Por isso um tratamento de choque ou a limpeza forçada de seus abrigos poderia não resolver o problema.

Seria necessário ajudá-las a identificar onde se formou o medo de ter pouco, ou de não ter nada, e porque então precisam tanto guardar, para sempre prover, estarem abastadas.

Acumular, nesse caso, é uma saída, um “tratamento” para o pavor que sentem por um dia terem fantasiado a desestrutura total.

Portanto, não tem maluquice nisso. Tem medo, muito medo.


Então é melhor ter muito, do que não ter nada.

Rosangela Tavares








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