sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Me Solta!... De Mim!


A liberdade sempre foi pregada como uma das coisas mais maravilhosas de sentir.

Se sentir aprisionado é o pesadelo de qualquer ser.

Até a palavra aprisionado traz uma impressão ruim, de sofrimento.

Mas, e se tratando de aprisionamento interno?

Muitas pessoas são incrivelmente aprisionadas em si mesmas, muitas nem percebem.

São aprisionadas em hábitos sofridos, sentimentos velhos, lembranças penosas que não fazem questão de apagar. 

Detidas em velhas vidas que não querem deixar.

Aprisionadas em comportamentos repetidos, erros surdos, capítulos de novelas com mesmos desfechos, finais infelizes.

Pessoas que vivem no antigamente, no aposentado emprego, no primeiro relacionamento, na vivência que dividiu com quem não está mais aqui.

Vivem nas jazidas primaveras, como se novos verões não chegassem trazendo novas chances para mudar.

Há os que vivem sozinhos, por entrega, provando sua própria teoria de que não podem ser amados, cansados.

Há os que fogem por caminhos errados, se deixando engabelar, se afogando nos vícios, novos calabouços.

E os presos em celas douradas, iludidos pelo brilho dos gelados quilates.

Quanta prisão em corpos saudáveis e corações doloridos.

Quanta vida perdida em gaiolas de portas abertas.

Clausura, velha conhecida.

Cercas que criam a ilusão de proteção contra a angústia.

São muitas as prisões.

São muitos os motivos.

Felizmente muitos acharão suas próprias chaves.

Ou poderão contar com quem vá apanhá-las e terão um cadeado aberto por uma mão amiga, mesmo que seja numa ajuda profissional.

Outros acordarão, darão sim um basta, caminharão enfim.

Quiçá possam todos um dia colocar sua mão para fora das grades.

Identificar cada um a sua prisão interior.

Porque a prisão pode ser a escolha por um preço tão caro, um peso tão alto levado em velhas malas, enquanto a vida e a liberdade estão ao alcance de todos, num catálogo ao lado, a preço de vontade e coragem.

Rosangela Tavares

Para Sempre Diferentes


Nós lidamos com as diferenças entre nós e o mundo o tempo todo, mas nem sempre estamos conscientes disso.

E podemos acabar por vivenciar conflitos sem perceber onde está a questão principal.

Podemos viajar para lugares diferentes dos quais estamos acostumados, justamente para conhecer e apreciar elementos diferentes do que já nos é comum.

Podemos pesquisar imagens de regiões muito distantes ou assistir a vídeos de costumes muito opostos ao nosso só para nos surpreendermos com coisas que não imaginamos, que podem nos soar bizarras de tão estranho.

Entender que o outro come algo que você jamais ousaria experimentar, ou então que o outro possa se agradar de uma fragrância que lhe dá enjoo ou dor de cabeça é mais difícil.

E não é com o mesmo prazer e facilidade de uma viagem que conseguimos compreender como o jeito do outro é diferente do nosso quando estamos na condição de convivência.

Isso porque sem querer sempre esperamos que o outro aja como nós, pense como nós, tenha o ponto de vista parecido ou igual ao nosso.

Escolhemos um caminho e não conseguimos entender como a outra pessoa não pode achar que é o melhor também.

Como assim você não acha tal pessoa bonita? Como assim você não consegue gostar de uma coisa que eu acho tão maravilhosa? Mas você não está vendo que se fizer de outra forma vai dar errado?

E quando as diferenças permeiam o dia a dia de trabalho, ou mesmo da rotina da família ou casal dentro de casa, sem dúvida que se estará diante de desafios e processos constantemente difíceis. E nós passamos por isso todos os dias.

Uma pessoa comprometida e empenhada no seu trabalho pode sofrer demais ao depender da parte que o colega, distraído ou menos comprometido, demora a preparar.

Outra pessoa que prefere trabalhar focado e em silêncio poderá padecer horrores num ambiente agitado e barulhento por conta de outros que conversam sem parar.

Um casal poderá viver brigando por conta do jeito desorganizado de um, versus organizado do outro.

Ou então sofrerem juntos por conta da personalidade de um filho que parece ter características opostas a eles.

As diferenças estão por todo o lugar todo o tempo. Nos desafiam constantemente. E isso não mudará. Nunca mudará.

E nos frustraremos eternamente se não tivermos tal consciência e continuarmos esperando que o outro mude seu jeito de ser para ser como nós. Se continuarmos esperando que ao discutir com o outro, estaremos mostrando-lhe a grande verdade sobre a forma certa de pensar, e que com isso o outro entenderá nossos pontos de vista e bingo! Passará a ser idêntico a nós. Se cada solteiro continuar a imaginar que há alguém, em algum lugar, idêntico a ele, a ponto de garantir um relacionamento onde não terá que lidar com diferenças, e que não irá exigir sua paciência e aprendizado sobre a destreza de lidar com o mundo do outro. Se continuarmos esperando que todos no mundo passem alegremente a reciclar seu lixo e cuidar da natureza, assim como fazemos.

Que os outros pais tenham a mesma preocupação em entregar para o mundo um filho de caráter e honestidade como nós temos.

Diante da realidade de que tudo é, e sempre será diferente de nós, nos resta aprender a desenvolver uma das virtudes que considero quase a mais difícil de todas: a aceitação.

Porque a aceitação inclui paciência e resignação, com pitadas de humildade e maturidade.

Não temos muitas escolhas: ou usamos dos desafios para que nós mesmos cresçamos (e essa é uma opção muito inteligente, já que quando crescemos nos libertamos ao aprender nos flexionar diante das durezas), ou nos colocamos passivos às agressões que as diferenças parecem nos oferecer e enlouquecemos nos aborrecendo.

Quando aceitamos tantas divergências, quando aprendemos a olhar pela perspectiva de que é natural que tudo não seja como nós, pois não está em nós, e nem sob nosso controle, e que separar bem as coisas aceitando tudo como desafios que podem ser trabalhados com discernimento e calma, então a lente muda, nos convencemos mais facilmente de que somos únicos, assim como o outro também, e que cada um está em seu próprio caminho e grau de aprendizado, e que é melhor relaxar e desenvolver nosso jogo de cintura e empatia.

Rosangela Tavares

A Felicidade Nas Suas Escolhas


Talvez você não perceba que ao abrir os olhos pela manhã ao som de seu despertador, você tem diante de você um menu onde pode escolher tudo sobre o seu dia, e quem sabe sua vida.
Algumas pessoas reclamarão todos os dias sobre o barulho do som que o faz acordar, sem se dar muito conta de que precisa apenas, antes da próxima manhã de som torturante, trocar o toque para outro, mais agradável.
Talvez você nunca tenha percebido que diante de várias situações que te irritaram profundamente durante seu dia, estava a oportunidade de escolher por não se irritar.
(Então você se pergunta: “É mesmo? E onde fica esse botão?”)
Vamos lá, vamos aprender juntos.
Você pode escolher por soltar todos os palavrões que conhece ao derramar sem querer, café na camisa com a qual iria trabalhar.
Você também pode escolher por sair odiando o vizinho quando chega na garagem e o carro dele está muito próximo ao seu.
E talvez você não se dê conta de que com raiva acabou por acelerar demais seu veículo ao sair, contraindo uma multa na esquina.
Além disso chegou alterado demais naquela reunião importante e acabou sendo julgado negativamente, perdendo de fechar aquele negócio esperado.
Tudo poderia ter sido diferente.
Você concorda?
Mas de nada resolve partirmos para o passo de aprender a escolher, se antes disso não aprendermos o passo da consciência.
Primeiramente eu tenho que aprender a fazer um balanço dos meus dias, dos meus meses, dos últimos anos da minha vida e o que eu tenho feito dela, que aliás está passando tão rapidamente enquanto eu me embrenho neste terror de estresse e flagelo, que é a correria da vida moderna.
Quais são as suas últimas lembranças sobre se cuidar com calma, ou quando esteve em estado de paz prolongada, descanso e despreocupação?
O que tem feito com seu tempo, família, com seu corpo?
É preciso aprender o exercício de manter a consciência sobre nossos momentos, sobre cada passo de nosso dia, e principalmente e indispensavelmente sobre os momentos em que se começa a sair do equilíbrio, a caminho da irritação, raiva, ansiedade ou do que quer que seja que lhe tirará do mínimo centramento.
Porque é nesse exato ponto que eu posso aplicar estar alerta e definitivamente escolher se vou ou não adentrar ao chamado daquela situação estressante que ali se apresenta.
É uma questão de segundos, mas segundos decisivos e valiosos.
Ao enfrentar, por exemplo, a atitude mal-educada de alguém logo cedo, na fila para pedir um suco na lanchonete, quando este alguém simplesmente entra na minha frente me ignorando num ato brusco de malcriação, eu posso chamar pela minha consciência, respirar, e naquele instante escolher o que pensar, e como prefiro reagir.
Posso então escolher esbravejar com a pessoa, elevando meu estado furioso, me esquecendo completamente dos últimos prejuízos que sofri ao sair nervoso de casa para ter um dia infernal.
Posso escolher gritar palavrões dentro da minha cabeça, o que não me fará menos nervoso.
E posso escolher por me esforçar por manter a minha paz, imaginando apenas que aquela pessoa talvez não tenha recebido educação adequada de berço, ou que ela esteja passando por um momento tenebroso em sua vida, que a fez reagir assim pelo mundo afora, e nem foi pessoal.
Eu posso mudar meu foco, respirando fundo e trazendo uma recordação que valha a pena, ou acessando meu aparelho celular para um grupo de amigos de onde geralmente vem mensagens bobas, mas engraçadas, que divertem.
O que importa é conseguir a grandeza de mudar o foco no momento certo.
E aos poucos poder ter a felicidade de observar que consigo aliviar e evitar sofrimentos e desgastes.
Posso escolher entre o céu e o inferno.
A questão é: eu sempre posso. Eu posso fazer da forma como eu quiser. Posso escolher tentar estar mais tranquilo e menos desequilibrado, oferecendo uma parte melhor de mim para mim mesmo, e para quem estiver perto de mim.
Talvez até hoje você não tenha parado para pensar nisso, ou talvez esteja esperando se sentir exaurido o suficiente para começar a pensar em mudar isso na vida.
Sem dúvida que é mais inteligente que se aprenda o quanto antes a escolher pela serenidade, se colocando mais disposto a aprender que todo mundo é tão diferente do outro, e que não adianta esperar que mesmas atitudes minhas venham do outro para mim.
Aprender a se manter dentro de sua boa escolha por um estado de ânimo feliz, entendendo que o outro é responsável pelas escolhas dele, não permitindo que o estado do outro afete o meu.
Isso parece mágico, mas é apenas um lado real da vida, aliás, um lado que inúmeras pessoas não acessam há muito tempo, já habituadas à sua ansiedade e dificuldades no dia a dia.
É passo a passo, é conseguir cada dia um pouco mais.
Então agora que você já sabe do caminho, fica a seu critério escolher seguir por ele.
Basta se lembrar desses passos:
Reveja sua vida e a qualidade dela.
Se coloque alerta desde que acordar, na intenção por um dia leve.
Mantenha a consciência assim que uma situação adversa surgir.
Pause por um segundo e respire, se permitindo tomar uma decisão ali, como se tivesse um botão positivo que pudesse apertar e seguir em frente desejando aproveitar seu dia e ser feliz.
Mude o foco de sua mente toda a vez que sentimentos ruins se intensificarem.
Treine, exercite, aplique.
Escolha sempre consciente.
Escolha sua paz (com cobertura extra de saúde e satisfação com a vida).

Rosangela Tavares