A liberdade sempre foi pregada como uma das coisas mais
maravilhosas de sentir.
Se sentir aprisionado é o pesadelo de qualquer ser.
Até a palavra aprisionado
traz uma impressão ruim, de sofrimento.
Mas, e se tratando de aprisionamento interno?
Muitas pessoas são incrivelmente aprisionadas em si mesmas,
muitas nem percebem.
São aprisionadas em hábitos sofridos, sentimentos velhos,
lembranças penosas que não fazem questão de apagar.
Detidas em velhas vidas que
não querem deixar.
Aprisionadas em comportamentos repetidos, erros surdos,
capítulos de novelas com mesmos desfechos, finais infelizes.
Pessoas que vivem no antigamente, no aposentado emprego, no
primeiro relacionamento, na vivência que dividiu com quem não está mais aqui.
Vivem nas jazidas primaveras, como se novos verões não
chegassem trazendo novas chances para mudar.
Há os que vivem sozinhos, por entrega, provando sua própria
teoria de que não podem ser amados, cansados.
Há os que fogem por caminhos errados, se deixando engabelar,
se afogando nos vícios, novos calabouços.
E os presos em celas douradas, iludidos pelo brilho dos
gelados quilates.
Quanta prisão em corpos saudáveis e corações doloridos.
Quanta vida perdida em gaiolas de portas abertas.
Clausura, velha conhecida.
Cercas que criam a ilusão de proteção contra a angústia.
São muitas as prisões.
São muitos os motivos.
Felizmente muitos acharão suas próprias chaves.
Ou poderão contar com quem vá apanhá-las e terão um cadeado
aberto por uma mão amiga, mesmo que seja numa ajuda profissional.
Outros acordarão, darão sim um basta, caminharão enfim.
Quiçá possam todos um dia colocar sua mão para fora das
grades.
Identificar cada um a sua prisão interior.
Porque a prisão pode ser a escolha por um preço tão caro, um
peso tão alto levado em velhas malas, enquanto a vida e a liberdade estão ao
alcance de todos, num catálogo ao lado, a preço de vontade e coragem.
Rosangela Tavares
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