Todas as pessoas têm traços de
timidez.
Até as mais extrovertidas podem
ficar tímidas em situações específicas. A isto chamamos de timidez situacional.
Mas há os que sofrem com a
timidez crônica, que é a constante, ou seja, a pessoa experimenta essa dificuldade
em praticamente todas as áreas de convívio.
Vou falar aqui da timidez em seu
estado mais intenso.
Timidez pode ser definida como um
estado de acanhamento excessivo.
E pode trazer um sofrimento maior
do que sonha quem não experimenta esta realidade.
Ser tímido é ter vergonha de
dançar naquela festa, quando é na verdade sua maior vontade, mas, mesmo
desejando muito, ficar paralisado.
Timidez é ter pavor só de
imaginar vários rostos se voltando para si, esperando um discurso ou
manifestação de sua parte.
É querer sumir, virar fumaça para
não ter que se destacar entre um grupo.
É sofrer com a ansiedade no
conflito entre desejar, mas não conseguir se integrar.
É viver o impedimento de um
sonho, de uma conversa com aquela pessoa por quem está apaixonado.
Ou mesmo viver a incapacidade
diante de uma atitude tão simples como fazer uma pergunta ao professor diante
da sala.
A timidez, conforme o grau, pode
causar enorme impacto no desenvolvimento de alguém, já que limita, desanima,
causa um mal-estar terrível, fazendo com que a pessoa se retire, se esconda, se
proteja demais, e o pior, acabe por se classificar como inferior.
Há inclusive que se considerar a
real possibilidade do caminho para uma depressão em quem é tímido demais.
Timidez pode ser tanto uma condição,
como um traço de personalidade.
Mas traz na verdade medo.
Medo de ser julgado inadequado.
De onde vem a timidez?
Por que há pessoas tão
extrovertidas, que não tem o menor problema em se exibir, enquanto outras
fugiriam do mundo se pudessem?
Por um lado, podemos falar de
característica pessoal, já que desde cedo se pode observar, por exemplo, que
num grupo de crianças já existem aquelas que são mais soltas, e as que são mais
recatadas, mesmo que muito pequenas.
No mais, podemos pensar que
situações experimentadas durante a vida podem ter acarretado ou reforçado a
condição da timidez.
Nesse sentido podemos imaginar
alguém que viveu num lar sob severa repressão, por exemplo. Onde não podia se
manifestar, nem colocar opiniões. Um ambiente onde soava a idéia de que não era
aceito, de que não podia existir, de que sua presença não fazia diferença.
Situações assim são mais comuns
do que podemos imaginar.
Porque timidez também tem a ver
com autoestima, com se achar importante, com se sentir livre para achar-se,
para pronunciar-se, para ser querido e amado.
Muitas pessoas são tímidas por
não se enquadrarem nos padrões físicos de perfeição, ou porque têm alguma
deficiência, ou qualquer outro detalhe que lhes faça desigual, que lhes cause a
sensação de desencaixe.
Muitas vezes o que é considerado
como ponto de inadequação é potencializado pela fase da idade.
Os adolescentes, por exemplo,
vivem essa fase tão delicada e frágil com relação à sua autoimagem e
importância, estão formando sua identidade e estruturando a autoconfiança.
Precisam se sentir fazendo parte, sendo aceito pelo grupo.
Se a pessoa que já carrega esta
vulnerabilidade, se deparar com o dissabor de um processo de bullying, então,
pode ser o fim da sua vida, literalmente.
O tímido tem medo da crítica, da
desaprovação. Seu maior pesadelo seria escutar algo que viesse a confirmar seu
estado de inconveniência, e viver uma humilhação.
Então, se aprofundarmos,
chegaremos na essência desse medo, que é o do desacolhimento, do desprezo, da
rejeição.
É o medo de ser censurado,
reprovado, negado.
E ser enjeitado vai de encontro
com parte de um instinto de vida, sobrevida.
Porque não participar de um grupo
é como morrer, na leitura inconsciente ancestral de que ser excluído seria não
poder obter parte da caça, alimento conseguido com organização de equipe, mesmo
que fosse nos tempos da pedra.
Além disso, como um Ser complexo
que somos, trazemos a necessidade natural do afago, da proteção, significado de
que seremos cuidados, que não faleceremos diante do menosprezo.
A timidez excessiva requer
tratamento, intervenção, já que impede o desenvolvimento do indivíduo, que pode
sofrer as consequências pela alienação, tristeza e solidão.
No fundo as pessoas tímidas podem
ser mais inteligentes, sensíveis e especiais, pois são mais analíticas,
observadoras, sempre escutam mais do que falam. Podem ser verdadeiros artistas.
Ao adentrar no processo de
autoconhecimento precisará entender que a timidez não é um defeito, mas que
pode ser um traço de personalidade que precisa ser ressignificado à medida que
o trabalho psicoterapêutico progride no sentido de ajudá-la a reconhecer o seu
valor, identificando seus medos e prováveis origens.
E poderá descobrir que ser uma
pessoa tímida não inclui necessariamente o sofrimento, e que é possível
aprender a se amar e ter o controle para lidar com as situações.
“Antes eu achava que minha
timidez era o problema. Agora eu vejo que o problema é usar minha timidez como
desculpa para não viver. ” Helen Rowland.
Rosangela Tavares