quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Como enfrentar o Luto

Quando vemos alguém dizer ou escrever que está de luto, a primeira coisa que pensamos é: "Quem será que morreu?". Porque a idéia de luto está diretamente ligada à morte, à perda.

E o luto é exatamente isso, é o processo por qual passamos após uma perda.



Fazer o luto, viver o luto, elaborar o luto, é uma coisa muito, mas muito importante para o emocional de cada um.

O luto não elaborado, ou mal elaborado pode trazer no futuro os mais diversos desequilíbrios, físicos ou emocionais, incluindo depressão, crise de angústia, pânico, problemas cardíacos, obesidade...

Acontece que tudo o que possuímos ocupa um lugar, menos ou mais significativo, no nosso emocional. É como se fosse um espaço físico mesmo.


Por exemplo, a pessoa da nossa mãe ocupa uma posição dentro de nós, com um nível de importância, o nosso emprego a mesma coisa, o nosso automóvel também, mesmo sendo algo material.

De acordo com esse valor emocional, o luto se fará menos ou mais difícil.

Então, fazer o luto é trabalhar e superar uma perda.

Quando se perde uma pessoa para a morte física, a ordem das coisas é mais ou menos assim: primeiro vem o choque pela realidade. A pessoa muitas vezes não se dá muito conta do que aconteceu, por defesa. É como se diz popularmente: "a ficha ainda não caiu".



Com o passar dos dias a falta da pessoa perdida vai se fazendo mais real, e quem está de luto vive isso sem alternativa.


A cada dia que passa, inevitavelmente vai repassar todas as lembranças, vai olhar para cada foto, cada objeto e relembrar momentos, vai chorar muito, extravasando a tristeza pela situação sem volta.

Mas por mais duro que seja, esse é o caminho mais saudável, psicologicamente falando.

A cada vez que se relembra um momento, primeiro vem o prazer na lembrança, e em seguida vem a certeza de que aquele momento nunca mais existirá. E aí vem mais choro, mais esvaziamento.
Isso é elaborar o luto, repassar imagem por imagem, situação por situação, e aos poucos ir se convencendo da realidade, que mostra que acabou para sempre. 

Algum tempo depois, as lembranças que vêm, já não trarão mais a mesma intensidade de emoção. É como se a pessoa fosse esgotando a energia emocional ligada à pessoa perdida.

Quando se atinge o nível de lembrar da perda e sentir mais saudades do que tristeza e desespero, é porque o processo do luto está passando. Se poderá até conseguir sorrir ao lembrar das coisas boas passadas. No final de tudo restará uma tristeza amena, e saudade.
  
Mas como esse processo é realmente muito doloroso, muitas vezes usa-se de mecanismos de defesa, não se permitindo entrar em contato com a realidade como deveria. E isso, psiquicamente, pode ser um problema.



Porque toda a energia emocional que se precisaria esgotar, fica reprimida, guardada na sua intensidade embaixo da negação, e poderá surgir no futuro em forma de outros sintomas, muitas vezes mais impactantes do que o próprio luto.

Por isso os psicólogos falam tanto da importância de se entrar em contato com a experiência. Inclusive as crianças, que sob condução adequada, não devem ser poupadas, como se costuma achar.

Algumas pessoas ficam fixadas no passado, sem aceitar que já acabou, ficam paralisadas na vida, paradas no tempo. Isso pode se dar com a perda de dinheiro, posição profissional, relacionamento ou até à perda de uma fase (mudou de cidade, a faculdade acabou, o bebê cresceu, a viagem terminou, o filho casou...). Nesse caso pode surgir até uma depressão.

Elaborar o luto é aceitar profundamente que algo não voltará, e isso não significa que o que acabou não tem mais importância, mas que ficará numa boa lembrança, e naturalmente se conseguirá olhar para as outras coisas boas da vida e seguir em frente.

Não é fácil, mas é uma superação possível.

Rosangela Tavares


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