segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Eu como para viver


Comer é muito bom, todos sabemos.

A diferença pode estar em comer ou saborear, em nutrir ou preencher.

A gente come porque precisa abastecer nosso organismo com coisas boas.

O problema é quando comer vira busca para preencher vazio, para ter prazer na vida, principalmente quando fora do momento de comer não existe quase prazer.

Pessoas de sobrepeso em geral precisam mais comer do que se alimentar, emocionalmente falando.

Elas podem viver por dentro uma insatisfação em algum nível, onde a preocupação sobre o peso, por um momento, é menor, dói menos.

Muitos nem se deram conta dessa insatisfação no nível da emoção, que gera a dependência.

Comer por necessidade emocional é triste, é como se o prazer só durasse o momento de estar ingerindo coisas gostosas.

E geralmente são coisas de muito sabor, seja gordura, ou o doce, porque em algum ponto lá dentro existe um espaço para ser preenchido. Um espaço ocupado pela falta, pela insatisfação.

E quando acaba aquele momento, quem comeu se vê ansioso, culpado, mal, e buscará a comida de novo, assim que conseguir, para fugir, se deleitar, num ciclo vicioso.

Quem come por fundo de carência ou sofrimento, come para viver. Para conseguir viver. Só que age pelo caminho errado. A comida digere, acaba, a carência não.

É preciso se tratar por dentro, descobrir onde ficou o registro da falta, da desnutrição pelo carinho, pela falta de amor, ou seja o que for.

Onde se formou um buraco no coração, que foi parar no estômago.

É preciso descobrir se há crenças de não-merecimento, de culpa, baixa autoestima, que justificaria o fazer mal a si mesmo de alguma forma, acabar com a saúde, se entregar. Porque se cuidar é se amar.

Obesidade pode ser acúmulo, acúmulo de memórias inconscientes e doloridas, velhos conteúdos reprimidos, lutos não elaborados, defesas. Porque a gordura também é uma casca que protege, esconde, que defende.

A satisfação e o contentamento precisam estar antes no peito, no íntimo.

Quando a clareza e a harmonia interior superarem os impulsos da ânsia pelo preenchimento, então a vida muda, e comer passa a ser apenas um prazer na medida de um prato. O resto do prazer está na alma.


Rosangela Tavares 

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