segunda-feira, 13 de abril de 2015

Aprendendo a lidar com a culpa


Eu recebo casos no consultório, de pessoas que sofrem por se culparem por coisas que viveram, atitudes que tiveram, se sentindo culpadas por relacionamentos que terminaram, empregos que abandonaram, males que teriam causado.

A culpa é a condição de se sentir mal por achar que atuou em alguma situação tendo sido o ator responsável pelo acontecimento e pela consequência daquele acontecimento.

A diferença entre se sentir culpado e responsável, é que quando alguém se sente responsável, está simplesmente admitindo que foi a sua atuação que causou algo, que foi  o seu despreparo, sua imaturidade, sua negligência, enfim, que foi responsável.

Já a pessoa culpada vive uma submissão, uma entrega, um sentimento sofrido diante de um cenário que na verdade pode ter sido mal analisado, mal explicado, mal compreendido.

E quem se cobra passa a ocupar um lugar de culpado, às vezes por muito tempo.

Mas é possível se sentir responsável sem se sentir culpado.

Pode-se admitir uma responsabilidade somente neste nível, sem se sentir em sofrimento, com remorso, porque a culpa, o remorso (que é o arrependimento com culpa), é a idéia de que se foi mal, maldoso.

Isso tudo vem de encontro com os conceitos da pessoa sobre ser boa, ser má, como ela constituiu isso, como ela aprendeu isso desde a infância.

Uma pessoa pode ter aprendido desde pequena que a vida é feita de escolhas e consequências, e que a partir do momento que se dá um passo, já se tem uma consequência, boa ou ruim, e sendo ruim, ela poderá se sentir responsável, aprenderá com aquilo, mas não necessariamente precisará se sentir culpada e sofrer, porque se aprendeu a lição, significa que tenderá a não repetir uma atitude do tipo. Nesse caso ela aprendeu como se responsabilizar por seus atos.

Pessoas que se culpam com facilidade, podem ter vivido experiências que as fizeram acreditar que são causadoras de maldades, situações que as levaram a se manterem assim, sempre em posição de culpadas (por exemplo pais que sempre apontaram os erros de forma inadequada: “Está vendo o que você fez? Olha o que você causou. Você não tem jeito, só faz bobagens”).

O sentimento de culpa é negativo, se sentir culpado limita, atrapalha, além de que o culpado pode trazer para si, um movimento de defesa, como não entrar mais num relacionamento, se afastar dos amigos, da família, ou de não viver mais feliz, ou enfim, de não se permitir ter mais experiências que poderiam ser novas e boas, em nome de um castigo que ele mesmo estará se dando.

Isso impede a pessoa de crescer, de aprender, de se desenvolver, de viver.

A responsabilidade não isenta ninguém de ser o causador de algo.

Se responsabilizar tem um peso, mas permite que alguém possa pensar, rever as atitudes, perceber.


E é preciso que se aprenda a se sentir apenas responsável, admitindo a participação num episódio da vida, e que seja apenas um aprendizado, já que todos erramos, e todos temos o direito de nos redimir e seguir em frente.

Rosangela Tavares


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